terça-feira, 31 de agosto de 2010

SEMEADURA



Nem me virando
Do avesso
Eu me reconheço
Meus fantasmas me rondam
Sou refém dos meus medos
Sigo insone
Sem rumo
Sem fé
Em mim.
Como cheguei até aqui?
Com meus próprios pés.
Bebendo o veneno
Que eu mesma preparei.
Dando mil voltas
Ao redor do meu próprio eixo
Não me mexo
mais...
A apenas a alguns passos
Pode estar um abismo.
E a vontade de me jogar é insana.
E ninguém me engana:
Só colhi o que plantei

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

AGRONEGÓCIO X AGRICULTURA FAMILIAR: BOLSO CHEIO E MESA VAZIA!



16 de outubro – dia da soberania alimentar, dia da alimentação. O Brasil nunca esteve tão longe de ser independente – pelo menos no que diz respeito à produção de alimentos para consumo interno. O último censo agropecuário de 2006 deixa claro quem alimenta o povo brasileiro: a agricultura familiar, ocupando apenas 24% da área agrícola, produz 38% da riqueza desse setor produtivo; emprega 75% da mão de obra no campo; responde por 87% da produção nacional de mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café , 34% do arroz, 21% do trigo, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos[1].
Do outro lado, a agricultura não familiar, o chamado agronegócio, representa apenas 15,6% do total dos estabelecimentos agrícolas, mas monopoliza 75,7% da área agrícola. O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira a um custo muito alto. Todos os anos, são despejados milhões de litros de agrotóxicos nessas terras, o que contamina os lenços freáticos e prejudica o meio ambiente e a saúde da população. Onde se instala a agricultura extensiva, surge o chamado “deserto verde”, com a destruição da biodiversidade, os rios secam e as terras se tornam improdutivas com o passar dos anos.
Segundo Oliveira[2], o país produz e exporta a comida que falta nos pratos da maioria dos trabalhadores brasileiros. Em 2.003, entre os 100 principais produtos, o complexo soja (soja em grão, farelo e óleo) respondeu pelo item de maior valor em dólar na balança comercial com o exterior. Esteve e está à frente das exportações de aviões, minério de ferro, automóveis, terminais portáteis de telefonia celular, alumínio etc. Em sua esteira vêm os tradicionais café e açúcar. Depois deles, aparece a pasta de celulose, os calçados e o couro, a carne de frango, o suco concentrado de laranja, o fumo, a carne bovina, a carne suína, o milho, as madeiras e a castanha de caju.
Quanto às importações, entre os 100 primeiros, o trigo esteve no ano de 2.003, em segundo lugar; a soja importada (é isso mesmo, importa-se para exportar) em décimo nono; arroz em vigésimo quinto; o leite integral em pó (é isso mesmo também) e ainda a pasta de celulose, papel jornal, cacau, borracha natural, etc., etc., etc.
A análise de Oliveira[3] demonstra que o agronegócio moderniza o país, já não dependemos mais apenas da importação do trigo, mas, agora também do leite. Estamos, pois, diante de uma terrível contradição. Quem produz, produz para quem paga mais, não importa onde ele esteja na face do planeta. Logo, a volúpia dos que seguem o agronegócio vai deixando o país vulnerável no que se refere à soberania alimentar. Como as commodities (mercadorias de origem agropecuária vendidas nas bolsas de mercadorias e de futuro) garantem saldo na balança comercial, o Estado financia mais as ditas cujas. Então, mais agricultores capitalistas vão tentar produzi-las. Dessa forma, produz-se o saldo da balança comercial que vai pagar os juros da dívida externa. É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Ou como preferem os companheiros, é o neoliberalismo em sua plena volúpia.
Os episódios recentes envolvendo uma empresa do agronegócio, a Cutrale, uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo, revelam bem esta luta desigual que se trava entre produtores de alimentos para consumo interno e para a exportação. O MST[4] ocupou a fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do Estado de São Paulo, a partir do dia 28 de setembro, sendo retirado há poucos dias atrás. A área possui mais de 2,7 mil hectares, utilizados ilegalmente pela Sucocítrico Cutrale para a monocultura de laranja, que demonstra o aumento da concentração de terras no país, como apontou o censo agropecuário do IBGE. O objetivo da ocupação era justamente denunciar esta guerra que se trava, hoje, entre a agricultura familiar e o agronegócio.
Segundo o MST[5], a ocupação tinha como objetivo denunciar que a empresa está sediada em terras do governo federal, ou seja, são terras da União utilizadas de forma irregular pela produtora de sucos. Além disso, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já teria se manifestado em relação ao conhecimento de que as terras são realmente da União, de acordo com representantes dos Sem Terra em Iaras.
Como forma de legitimar a grilagem, a Cutrale realizou irregularmente o plantio de laranja em terras da União. A produtividade da área não pode esconder que a Cutrale grilou terras públicas, que estão sendo utilizadas de forma ilegal, uma prática comum feita por grandes empresas monocultoras em terras brasileiras como a Aracruz (ES), Stora Enzo (RS) entre outras.
O MST nega ter depredado dependências e equipamentos da fazenda. O Brasil de Fato[6] reafirma a defesa do MTS, negando estas acusações: “(...)em nota divulgada, o MST afirma que não promoveu a depredação na fazenda e muito menos tocou nos pertences e nas moradias dos trabalhadores que residem na área. A nota faz alguns questionamentos, com a versão insistentemente veiculada na mídia, que qualquer jornalismo sério e comprometido com a verdade faria: a Policia Militar de SP não tem nenhuma imagem filmada da depredação? Como seria possível desmontar os tratores, como foram apresentados, não tendo equipamentos necessários para isso? Como seria possível furtar 15 mil litros de combustíveis, escoltados pela PM e sendo transportados em cima de uma carroceria de caminhão? Por que tendo recebido imagens da destruição dos pés de laranja ainda no dia 28 de setembro, somente no dia 5 de outubro a Rede Globo resolveu exibi-las? Por que os integrantes do MST foram impedidos de acompanhar a entrada da PM na fazenda, logo após a saída das famílias acampadas? O que realmente aconteceu na fazenda após a saída das famílias acampadas? Apenas uma comissão independente, como exige o próprio MST, poderá dar respostas à essas perguntas”.
`Por que os produtores do agronegócio estão tão preocupados em denegrir a imagem dos militantes do MST? Talvez, porque temam o julgamento dos brasileiros que precisam pagar mais caro pelos alimentos básicos, porque a terra que deveria ser destinada à plantação de alimentos para consumo interno hoje é apropriada pelos fazendeiros locais e pelas empresas internacionais com a conivência do Estado e com a conta que só cresce através dos inúmeros subsídios concedidos e da rolagem das dívidas destes produtores, sendo paga por cada um de nós.

[1] Brasil de Fato – 15/10/2009
[2] OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. In: Os mitos sobre o agronegócio no Brasil. XII Encontro Nacional do MST, em São Miguel do Iguaçu, PR, de 19 a 24 de janeiro de 2004.

[3] Ibidem.
[4] Nota oficial do MST divulgada em 06/10/2009
[5] Ibidem
[6] Edição de 15/10/2009

domingo, 30 de agosto de 2009

Veja X MST: chega de antijornalismo!

Sr. Editor,

A matéria intitulada "Abrimos o Cofre do M$T", publicada na edição 2128, de 2 de setembro de 2009, causou-me profunda indignação. As graves acusações apresentadas contra o MST não trazem nenhuma comprovação, limitando-se a apresentar coincidências e uma lista infindável de suposições. No próprio texto da matéria, identifica-se que não há comprovação para as denúncias: "Se comprovado que os recursos foram usados para subsidiar invasões de terra, os doadores poderão até ser acusados de formação de quadrilha". O próprio autor da matéria, aliás, numa nítida auto-avaliação, afirma: "Há muito que desvendar a respeito do verdadeiro uso do MST do dinheiro público e das verbas provenientes do exterior". Isto, decididamente, a revista Veja não fez mesmo. Não desvendou nada. Não mostrou nenhum fato concreto. Ao longo de toda a matéria, não há um só recibo, não há um comprovante, uma cópia de cheque, um depoimento, nada, rigorosamente nada, que comprove a autenticidade das denúncias apresentadas. Isto é antijornalismo puro. A prática do jornalismo requer a apresentação de denúncias com provas que as fundamentem, com testemunhas, e com a audição da parte acusada também. Como professora de Jornalismo, do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará há 25 anos, constato com tristeza a parcialidade desse veículo de comunicação que não respeitou as regras básicas do fazer jornalístico na realização desta matéria.

Márcia Vidal Nunes

sábado, 22 de agosto de 2009

Revolução




Move
-Vejo o movimento
Envolvendo
-Direita, volver...
-Esquerda, revolver...
Mexer, mexer, mexer...
Malemolentemente.
Movimento
-Invento
E tento, tento, tento.
Sempre no intento de...
Tormento
Intenso.
Apaga, minha cabeça,
Um instante só,
Por favor.
Aí - inerte -
Com certeza, no corpo morto,
A cabeça ainda pulsará...
Girando, girando, girando,
Sem cessar....

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

RUMO AO ESPAÇO


Estou querendo me implodir

Silenciar meu pensamento

Pôr meu corpo em movimento

E não voltar jamais para este instante

Presente e ausente,

Em que nada me atrai

Ou me satisfaz.

Reinventar o mundo,

Recriar novas formas de mim mesma.

Quero dançar, dançar, dançar

Esquecer que sou um ser, um corpo, uma mente.

Quero ousar: fazer algo diferente.

Quero ir do outro lado

-Experimentar um pouco

O meu avesso

O meu temido lado sombrio

Chega de ser boazinha,

Bem comportada,

Quero ser a bad girl

Nem que seja só por um minuto.

Dar essa volta completa em torno do meu eixo

Para me perder de vez

Ou me achar de vez.

Quebrar todas as couraças,

Cortar todas as ligações e

Nunca - nunca mais - colocar

Os pés no chão novamente!

sábado, 20 de dezembro de 2008

CILADA


Lâminas finas

Cortam minha carne e me testam

No vórtice imenso.

-Até onde será que ela resiste?

Têmpera de aço,

Tanque de guerra,

Indomável lutadora,

Nem morta me entrego.

Lutar é minha sina,

Revirar as entranhas da vida,

Surpreender sempre o meu inimigo

Com um doce sorriso...

Resistir é preciso,

Mesmo quando o ânimo se abate

E a coragem nos falta.

Um dia esse mundo melhor

Existirá e eu - plena -

Saberei que dei vários passos

Em sua direção!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

INSTITUTO DE CULTURA E ARTE: INOVAÇÃO, CRIAÇÃO E AÇÃO


INSTITUTO DE CULTURA E ARTE: INOVAÇÃO, CRIAÇÃO E AÇÃO
Márcia Vidal Nunes (*)
O Instituto de Cultura e Arte é um desses sonhos coletivos, que só acontecem quando sonhamos juntos e unidos numa mesma direção. É o sonho de quem quer fazer acontecer, de quem ousa propor o novo, a integração possível e buscada entre a razão e a emoção.
É um sonho ambicioso, porque nos projeta para além da condição humana - queremos evoluir, queremos crescer e a cultura é o melhor caminho para atingir este objetivo.O ICA é um sonho intenso de dinamização da cultura local, uma proposta de integrar a arte, a filosofia, a tecnologia e a comunicação.
Num mundo globalizado, marcado pela intervenção brutal das novas tecnologias, o que mais precisamos é recuperar nossa humanidade: colocar, novamente, o ser humano no centro de tudo.
Como tornar este projeto possível, levando em conta todo o progresso da ciência e da tecnologia, sem desprezar a dimensão subjetiva da condição humana? A resposta está na integração: a união de todos os saberes milenares projetados através da comunicação como expressão artística. O ICA é a concretização desse sonho integrador de pluralidade, de multiplicidade, de levar todos nós a uma jornada instigante da promoção dos mais nobres valores da condição humana.
Queremos revelar através da dimensão cultural todo o extraordinário potencial humano para a vida em sociedade. É chegada a hora de unir a razão e a emoção com equilíbrio. Queremos revelar através da dimensão cultural todo o extraordinário potencial humano para a inovação, a criação e a ação. O que nos move é a busca da harmonia, do Belo, da integração possível entre o ser humano, o processo científico e tecnológico e a subjetividade artística, tendo na comunicação o elemento integrador e consolidador de todo este processo.

(*)Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC e Conselheira do ICA