sábado, 20 de dezembro de 2008

CILADA


Lâminas finas

Cortam minha carne e me testam

No vórtice imenso.

-Até onde será que ela resiste?

Têmpera de aço,

Tanque de guerra,

Indomável lutadora,

Nem morta me entrego.

Lutar é minha sina,

Revirar as entranhas da vida,

Surpreender sempre o meu inimigo

Com um doce sorriso...

Resistir é preciso,

Mesmo quando o ânimo se abate

E a coragem nos falta.

Um dia esse mundo melhor

Existirá e eu - plena -

Saberei que dei vários passos

Em sua direção!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

INSTITUTO DE CULTURA E ARTE: INOVAÇÃO, CRIAÇÃO E AÇÃO


INSTITUTO DE CULTURA E ARTE: INOVAÇÃO, CRIAÇÃO E AÇÃO
Márcia Vidal Nunes (*)
O Instituto de Cultura e Arte é um desses sonhos coletivos, que só acontecem quando sonhamos juntos e unidos numa mesma direção. É o sonho de quem quer fazer acontecer, de quem ousa propor o novo, a integração possível e buscada entre a razão e a emoção.
É um sonho ambicioso, porque nos projeta para além da condição humana - queremos evoluir, queremos crescer e a cultura é o melhor caminho para atingir este objetivo.O ICA é um sonho intenso de dinamização da cultura local, uma proposta de integrar a arte, a filosofia, a tecnologia e a comunicação.
Num mundo globalizado, marcado pela intervenção brutal das novas tecnologias, o que mais precisamos é recuperar nossa humanidade: colocar, novamente, o ser humano no centro de tudo.
Como tornar este projeto possível, levando em conta todo o progresso da ciência e da tecnologia, sem desprezar a dimensão subjetiva da condição humana? A resposta está na integração: a união de todos os saberes milenares projetados através da comunicação como expressão artística. O ICA é a concretização desse sonho integrador de pluralidade, de multiplicidade, de levar todos nós a uma jornada instigante da promoção dos mais nobres valores da condição humana.
Queremos revelar através da dimensão cultural todo o extraordinário potencial humano para a vida em sociedade. É chegada a hora de unir a razão e a emoção com equilíbrio. Queremos revelar através da dimensão cultural todo o extraordinário potencial humano para a inovação, a criação e a ação. O que nos move é a busca da harmonia, do Belo, da integração possível entre o ser humano, o processo científico e tecnológico e a subjetividade artística, tendo na comunicação o elemento integrador e consolidador de todo este processo.

(*)Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC e Conselheira do ICA

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A dança das estrelas

Com as lágrimas do vento,
Ela teceu a canção do movimento.
Foi-se no tempo
Como um vulto que some
Na noite escura...
Ela é só tormento
-Seu coração é doce sepultura.
Inflamável
e serena,
Ela serpenteia em noites seguidas
pela mágica tessitura da leveza.
Ela é extrema em singeleza.
Doce e diáfana,
ela é plena.
Desliza, nas nuvens vermelhas,
Ávida de água cristalina.
Ela é demente
e lúcida.
Seu caminho é um rastro
de fogo e pétalas.
Ela devaneia
enquanto - lá fora -
a chuva dissolve
a dança das estrelas.

Latência


Onde habita o desejo
Reina o mistério.
Qual é a ponta do desejo?
Em que pontes
Ele se eleva
Ou se dilui?
O desejo se consome nele mesmo.
O desejo satisfeito
É o início do próximo desejo.
O desejo é sempre do que não se tem
Ou do que não se é.
O desejo é pacto?
O que é o desejo?
O desejo tem dimensão?
O desejo é dúvida
Ou certeza?
O desejo é sempre
Um enfrentamento.
O desejo flui
Ou flana?
O desejo derrota as defesas.
É definitivo
Ou indefinido?
O desejo dói
Ou dá?
O desejo é dádiva
Ou dor?
O desejo domina
Ou decide?
O desejo desliza
Ou determina?
O desejo é encontro
Ou despedida?
O desejo
desiste?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Lua cheia


A lua cheia
Está desnorteando minha cabeça
Espero que a luz do sol
Dissolva essa loucura
Do mar enfurecido.
Ondas quebram na minha retina
E inflamam meu pulmão.
Estou insuportavelmente
Lúcida.
Dentro de mim,
Enxergo até o que não devia ver.
Não suporto mais tanta razão.
Desarvorada,
Jogo-me na areia
E cedo ao turbilhão.

Inferno

O deserto de nuvens vermelhas
Incendiou de vez minha cabeça.
Será que é tudo minha imaginação?
A escada em espiral,
A velha espectral,
A poeira suspensa,
Os olhos no vitral...
Manhã sanguinolenta
-O olhar perdido no tempo,
O fim da emoção.
Não ha saída,
nem meia volta.
Nesse labirinto,
Ninguém ouvirá os teus gritos
Nunca mais...

Denso

Os homens são feitos de carne
E o mundo é feito de pedra.
Impossível conciliar essas incompatibilidades.
E as selvas?
As selvas vasculham a memória de um tempo vivido,
Pois as florestas encontram-se ameaçadas
Pelo concreto que cresce e encobre o céu.
Os homens caminham em praias desertas,
Fugindo da fumaça das cidades.
Mas é inútil: as praias estão repletas de peixes mortos.
Os homens de carne já se acostumaram ao concreto.
Não podem mais viver na selva.
Preferem o grande alvoroço das cidades e suspensos,
Adormecem em suas gaiolas solitárias.
Não gemem, choram, completamente, inconsoláveis.
Não dormem: vislumbram fantasmas soturnos
Tecem pesadelos eternos nas pequenas salas
As carnes enrijecem no monótono exercício da vida.
-Fluxo, espécie de rio, que os atravessa despercebidos.
Ouvem-se preces: mais adiante, colocam uma lápide sobre um homem.
Carne e concreto se eternizam contrariados,
Fragmentados, num silêncio imenso.

Espera_nça

A mãe espera o filho.
A mulher espera o marido.
O estômago espera o pão.
O mendigo estende a mão.
O homem espera o trem.
Mas o trem não espera o homem.
Espera que espera
Um dia o desespero chega e se apodera.
O desespero é o triste fim de quem esperou a vida inteira.
Com paciência,
Com esperança.
O desespero está na espera.
Só há esperança na eterna busca.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Fio da Navalha



Tenho por ti
um carinho imenso.
Um amor de mãe.
A dedicação de uma irmã.
A ternura de uma amiga.
Tu és para mim
O fio afiado da navalha.
A lâmina de uma faca fria.
O sopro de um rio tépido.
A outra face de uma indiferença extrema.
Sou para ti cabeça intensa.
Pouco menos que um trator mental.
Uma gota d'água insistente
A martelar teu inconsciente.
Tens por mim reverência e tédio
Medo e fastio.
Temos a mesma essência.
Somos o avesso do avesso.
O que não gostaríamos de ser
Ou de ver
Em nós mesmos.
Somos alma laminada.
Somos vida em cavalgada.
Somos livres, leves e lânguidos.
Intrépidos ciganos.